terça-feira, 23 de novembro de 2010
Hobby lucrativo para o Sítio
Criadores de gansos, pavões, faisões e outras aves entraram na atividade por prazer e hoje têm boa renda
O sítio de lazer da família de Maria Virgínia Franco, em Parelheiros, no extremo da zona sul de São Paulo (SP), deixou de ser apenas para férias e fins de semana. Há cerca de 20 anos, Virgínia decidiu tirar algum rendimento da propriedade, "nem que fosse apenas para sustentá-la". Como a área é pequena, menos de 5 hectares, optou pela criação de aves ornamentais. "Já tinha certa empatia com aves em geral, tanto que criava algumas espécies, mas eram apenas para enfeitar o local", conta. Hoje, o sítio é economicamente viável e ainda sobra alguma renda para outros pequenos investimentos, como melhoria na infra-estrutura e nas instalações.
Assim como Virgínia, é desta maneira que grande parte dos criadores de aves ornamentais domésticas começa seu negócio. São vários os atrativos. Esse tipo de criação, por exemplo, não requer muito espaço, nem grande investimento inicial. "Em uma pequena área é possível obter uma renda razoável para a manutenção da propriedade", diz o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Aves, João Germano de Almeida.
QUANTIDADE MÍNIMA
Mas há um número mínimo de aves indicado para iniciar uma criação comercialmente viável. "No caso do ganso, são necessárias pelo menos cinco famílias. Cada família deve ter três fêmeas e um macho", explica Germano. Uma gansa bota 40 ovos por ano e cada filhote é vendido, em média, por R$ 20 a R$ 30. Para galinha d'angola, o ideal é de 5 a 10 famílias (duas fêmeas para cada macho). Os filhotes, de 30 dias, podem ser vendidos por R$ 5 a R$ 10. Já a ave adulta, com 5 meses, custa até R$ 30.
O pavão é outra opção. É mais caro, mas exige menos cuidados no manejo. "Pode até ser criado solto, desde que não haja predadores por perto", diz Germano. O problema é a reprodução. "São duas posturas por ano, de 15 ovos cada, e nem todos eclodem." Mas um macho adulto, de 2 anos, custa R$ 120 e, a fêmea, R$ 150. O ideal são duas fêmeas para cada macho.
Para quem trabalha com criação de raças puras, o retorno pode ser ainda melhor. Mas os cuidados são redobrados. "Na época da reprodução, as aves não podem ficar soltas, precisam ser confinadas, para evitar cruzamentos indesejados", diz Maria Virgínia, que começou a sua criação de aves puras quase por acaso. "Um amigo achava nossas aves bonitas e as levou para uma exposição. Uma delas ganhou um prêmio. Comecei a estudar, a criar outras raças, e a criação comercial foi uma conseqüência", conta. "Há um momento em que você se vê com um plantel enorme e precisa dar o próximo passo."
Segundo Virgínia, a comercialização não é problema. A demanda por aves ornamentais, conforme a criadora, é maior do que a oferta. O leque de opções é muito grande, vai de colecionadores de aves, sitiantes que querem ornamentar a propriedade, até os mais recentes clientes, os petshops. "Virou moda ter aves neste tipo de loja."
SIMPLICIDADE
O plantel de Virgínia hoje é de aproximadamente 200 aves, entre várias raças de galinhas, gansos, marrecos, pavões e patos, e ocupa apenas parte da propriedade. Para tornar a criação comercial, foi preciso investir em infra-estrutura, principalmente em instalações. Apesar de resistentes, a maioria das aves é sensível ao tempo e precisa de proteção contra o vento e a chuva. "Mas a vantagem é que não é necessário nada sofisticado, pelo contrário, quanto mais simples e mais próximo do hábitat natural, melhor é a produção", ensina a criadora.
A renda com a comercialização, garante ela, tornou a propriedade auto-sustentável. "E ainda conseguimos ter um pouco de lucro", diz. "Mas é preciso ter critérios para manter uma boa criação, fazer o manejo correto para dar produtividade, senão não dá retorno." Segundo Virgínia, hoje os gansos são os mais lucrativos, não pelo preço, mas pela maior demanda. Ela vende o casal adulto do ganso chinês branco, o sinaleiro, por R$ 180. Outra raça, a toulouse, chega a custar R$ 350 o casal adulto. "O toulouse e o pavão são as aves mais caras que crio."
HOBBY
O criador Edwar Ponte, de Magé (RJ), está no ramo há seis anos, mas tem sua criação como um hobby, apesar de ser a renda com as aves que sustenta a propriedade. "Escolhi as aves ornamentais porque já tinha alguma afinidade", diz. Ponte acredita que é uma boa opção para quem quer obter renda de pequenas propriedades.
Mas, alerta, é preciso tomar alguns cuidados. "Quem está entrando no negócio agora deve começar com aves mais baratas e de fácil manejo, como o faisão dourado e o coleira, para não correr o risco de investir muito e não se adaptar", aconselha. "Aprendendo o manejo, aí pode partir para as aves mais caras." Ele acrescenta também que as aves silvestres precisam de licença do Ibama e não são indicadas para quem está começando. Investindo em aves mais caras, o criador diz que a renda do sítio, hoje, dá para sustentar a propriedade e manter dez empregados. "Tenho um lazer remunerado", diz.
Mercado é certo e está em ascensão
Permissão de importação de aves expandiu e renovou qualidade do plantel
O presidente da Associação Brasileira de Criadores e Comerciantes de Animais Silvestres e Exóticos (Abrase), Luiz Paulo Amaral, diz que o mercado nacional para aves ornamentais vem crescendo aceleradamente desde 1994, quando a importação de novas espécies deu grande incentivo à criação, além de ter trazido sangue novo às criações já existentes, um fator importante para variar o plantel genético e apurar os padrões raciais.
Segundo ele, também houve incremento considerável no número de lojas voltadas à venda de animais, tanto ornamentais quanto domésticos. Atualmente, considerando só as metrópoles do Rio de Janeiro e de São Paulo, calcula-se que haja 8 mil estabelecimentos ligados a esse tipo de comércio.
GRANDE DEMANDA
Outro ponto importante foi a divulgação de novas legislações sobre animais silvestres e exóticos. Com isso, o mercado para animais ornamentais domésticos, oriundos de importações ou criatórios, teve grande progresso.
"A demanda ainda supera a procura, o que estimula e dá bons lucros ao empreendedor", diz. "Calculamos, porém, que a produção em cativeiro desses animais ainda não ultrapasse 10 mil exemplares, número irrisório diante do potencial da atividade."
A demanda, acrescenta Amaral, é basicamente de empresas de comercialização e pessoas físicas consumidoras. Por isso, diz, a escolha do plantel é muito importante. "Deve-se dar ênfase aos animais de maior penetração comercial, como faisão, pavão, marrecos e gansos."
APOSTA
A criação de aves ornamentais é a nova aposta de José Carlos Martins Gaspar, de São Bernardo do Campo (SP). O sítio, que antes era de lazer, transformou-se inicialmente em um grande canil. "Por enquanto, minha renda é exclusivamente da criação de cães e gatos."
Há alguns anos, Gaspar resolveu ampliar o número de opções. Comprou uma nova propriedade, na mesma região, e passou a investir em aves ornamentais domésticas, de raças puras. No novo sítio, de 8 hectares, tem 20 raças de galinhas. A waiandote prata laceada é a mais nova no plantel. "As galináceas são o forte do meu negócio, mas também tenho faisão, pavão e algumas espécies aquáticas", diz ele.
O mais caro - e o que chama mais atenção - é o belo cisne branco. O casal, adulto, custa de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Além de caros, porém, não são garantia de retorno imediato, pois a reprodução é difícil. O cisne é monogâmico. "Já tenho esse casal há dois anos e ainda não reproduziu. Há vários fatores que interferem, incluindo a empatia entre macho e fêmea." O cisne negro, igualmente belo, é uma opção mais viável. É mais barato, cerca de R$ 1.500 o casal, e se reproduz mais facilmente.
CUSTO E REPRODUÇÃO
Há outras belas aves aquáticas, como as tadornas e espécies exóticas de ganso, como o canadense, que tem o pescoço negro, e o havaí. Mas também não são fáceis de reproduzir e, por isso, têm um valor agregado maior.
A tadorna tricolor chega a custar R$ 2 mil o casal adulto. "No geral, o custo da ave está relacionado com a facilidade ou a dificuldade da reprodução", explica Gaspar. Entre os galináceos, a ave mais cara, diz o criador, é o cochim gigante frisado, que custa R$ 200 o casal.
Já as mais baratas são as miniaturas em geral, que custam R$ 50, em média. "O interessante é que o custo para criação não é alto. Basicamente, ração de milho complementada com verde", explica. "O maior investimento é com as instalações, essenciais para a proteção das aves, e com a compra das matrizes."
FONTE:http://www.sebrae-sc.com.br
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